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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 5 de maio de 2024
 

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Mensagem: Compensação da velhice

Ruth Tupinambá Graça

É interessante como o tempo se encarrega da modificar as coisas. Não só a paisagem, o aspecto e a estrutura de qualquer cidade, mas também de seus usos e costumes. Então, em se tratando das pessoas, o tempo não tem piedade e não há quem o segure, transformando lindos rostos num amontoado de rugas e manchas, e corpos saudáveis e ágeis, em corcundas. Nós não percebemos a passagem do tempo absorvidos com os prazeres da vida. Somente seus estragos nos alertam, lembrando-nos que o tempo passa e nem sempre sabemos ocupa-lo.
Vai-se a infância, a juventude, a mocidade, tudo tão rápido e a velhice se aproxima.
Começamos então a pensar, porque só então temos mais tempo para reflexões. Os sonhos vão se dissipando, os desejos e anseios da juventude vão diminuindo cada vez mais, a força e o vigor da mocidade, os desejos do sexo desaparecem e somente a realidade nos bate à porta.
Tudo é tão diferente! Diferente e triste e é quando nos sentimos sozinho. Olhamos para o passado e as lembranças povoam nossa mente. Parece tudo tão distante, chegamos a crer que foi tudo em sonho, um sonho tão gostoso!...
Como um filme lindo e colorido, as recordações permanecem gravadas em nossa retinha e constantemente a invocamos e insistimos em relembrá-las: amores que passaram por nossa vida, na adolescência e na juventude, quando o coração bate mais forte, cheio de sonhos e se transborda de paixões. Desejos insatisfeitos, beijos que não foram dados, que ficaram nos lábios, sonhos que não se realizaram, mas também, grandes amores que completaram nossa vida, encheram-na de prazer e felicidade e que para nossa tristeza, se foram, deixando saudades e marcas profundas em nosso coração.
Quem na vida não sofreu por alguém? Amor é vida, é bálsamo que acalma e alivia o sofrimento.
Nesta fase em que tudo nos parece tão triste e a vida sem sentido, que chegamos a acreditar que estamos realmente sozinhos, nunca se considere um velho sem um objetivo de vida, saiba envelhecer com otimismo.
Reaja, erga-se e não se entregue e não deixe que a solidão tome conta de você.
Procure um lazer, uma distração ou um trabalho, qualquer coisa para encher seu tempo.
Leia, escreva ou faça versos, volte a ser poeta enfrente a vida sonhando...
Se nada disto lhe der prazer (o que não me acontece), assuma o seu papel, mas assuma-o com alegria e seja a Vovó Coruja, agarre-se aos netinhos.
Ame-os com intensidade e entre beijos, abraços e mil carinhos, extravase seu coração, entregue-o a estas cabecinhas lindas e inocentes que são sua vida, seu sangue e são apenas crianças e na pureza de sua alma retribuem, em dobro, todo o seu carinho e ávidas pelo seu amor, sentem-se felizes e alegres com a maravilhosa companhia da querida vovó.

(N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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