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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 18 de maio de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 71)

NO ARRASTÃO DA VIDA

Agradeço veementemente a Deus haver me ajudado a realizar alguns dos sonhos que povoaram minha juventude.
Com igual ou maior veemência agradeço a Deus haver me protegido contra a realização de muitos outros sonhos que por falta de opções e por inexperiência alimentei na fase que o poeta chamou de “azul da adolescência”. É que, avaliados mais tarde, com serenidade, à luz da experiência que o passar do tempo nos confere, aqueles sonhos nada mais eram do que grandes equívocos e extravios nos caminhos da minha vida.
1) COLOCAÇÃO NA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL.
Em dezembro de 1933 passei para o 4o ano ginasial, em Montes Claros, em 1o lugar, mas tive meus estudos interrompidos, por falta de recursos para pagar as três parcelas de 200,00 cobradas anualmente pelo Ginásio Municipal de Montes Claros, correspondentes, hoje, a mais ou menos 2 salários mínimos. Ainda pagando dívidas remanescentes da crise de 1929, meu pai não se achava em condições de assumir o compromisso de pagar as três parcelas de duzentos mil reis, equivalentes a 4 salários mínimos, que era o valor da anuidade cobrada pelo colégio.
Não voltei das férias. Fiquei em Várzea.
Entre o final de 1934 e início de 1935, meu pai obteve do sr. Francisco Vieira Machado, agente da estação da Estrada de Ferro, permissão para meu ingresso, como “praticante”, no quadro do pessoal da agência, sem salário.
Era essa uma das formas de se ingressar na carreira que levaria a Guarda-Armazém, Conferente e finalmente Agente de Estação de 1a, 2a e 3a classe.
A Estrada (era assim que se referia à empregadora) não estava nomeando novos funcionários, mas a expansão das atividades dos trens cargueiros abrira oportunidade para a admissão de novos “Guarda-Armazéns”, na categoria de extra-numerários.
Era esse o cargo a que eu poderia ter acesso, nessa primeira fase. A classificação era realizada em Corinto.
Em 1935 eu completara 18 anos, em junho, e o próprio agente de Várzea, que era natural de Corinto e pertencia a família influente no lugar, trabalhava para minha admissão como acompanhante dos trens cargueiros até alcançar o posto de Conferente de Estação, início da carreira de agentes.
Trabalhei com afinco, aprendi a manipular o aparelho Morse e me comunicava com as estações de Porto Faria, Buritis e Pirapora, com razoável desembaraço, sabendo utilizar as diferentes siglas que representavam os diferentes trens que circulavam no ramal, os códigos das estações e as fórmulas consagradas para anunciar chegadas, partidas e atrasos dos trens expressos, noturnos, mistos, cargueiros, boiadeiros, lastros e composições especiais.
Da mesma forma aprendera a preencher os diversos e diferentes BTs (formulários) utilizados no dia-a-dia dos serviços de uma agência da ferrovia, bem como a calcular fretes de mercadorias em geral.
No final de 1935 ou início de 1936, uma deliberação do Governo Federal exigindo a quitação para com o serviço militar para a admissão no serviço público, frustrou minhas esperanças de emprego.
Meu pai e eu não tínhamos todas as informações. Não sabíamos que vivendo na zona rural eu poderia obter um certificado de isenção da prestação do serviço militar.
Se falhasse por esse meio, eu poderia ser dispensado em razão de ser portador de um problema no joelho direito e assim receber certificado de reservista da 3a categoria.
Felizmente não tínhamos conhecimento dessas opções.
Foi quando recebi o convite, por intermédio do Lauro, a quem o convite fora feito em primeira mão, para ir trabalhar em um lugarejo modesto, o então povoado de Juramento Velho, em casa comercial tipo “tem-tudo”, ganhando o que representaria hoje o salário mínimo. Um trabalhador braçal ganhava na ocasião cinco mil reis por dia de serviço, cativo, ou seja com alimentação por sua conta. Sem qualquer outra opção, aceitei o convite, para receber cento e cinqüenta mil reis por mês. Desse ordenado eu retirava setenta mil reis para pagamento de pensão.
2) SOCIEDADE NA CASA COMERCIAL DE JURAMENTO
No ano seguinte, 1937, com a abertura de uma filial em Glaucilândia (estação da ferrovia) e a transferência para a nova unidade do sócio-gerente de Juramento, fui escolhido para assumir a gerência do estabelecimento de Juramento, alcançando a firma, no fim do exercício, o lucro de 80 contos de reis.
A abertura de uma filial em Glaucilândia e a transferência da matriz para Montes Claros, faziam parte do plano de expansão da firma, no qual se incluía a venda da unidade de Juramento para aumentar os negócios em Glaucilândia e Montes Claros.
Nessa ocasião fui procurado por um fazendeiro da localidade que me propôs comprar o estabelecimento e deixá-lo sob minha gerência, como sócio com participação de 50% dos lucros que se apurassem nos balanços anuais.
Eu estava certo de que repetiria no ano seguinte os resultados do ano vencido.
Mas a aceitação da proposta contrariava minha aspiração de transferir-me para Montes Claros a fim de estudar contabilidade à noite.
Agradeci e recusei a proposta daquele bom cidadão de Juramento.
Felizmente.
3) LOJA NA PRAÇA DA ESTAÇÃO
Foi uma oferta de sociedade em loja de tecidos na Praça da Estação, por volta do ano de 1946, que felizmente não vingou.
Até hoje, 60 anos depois, o local não serve para o comércio de tecidos.
4) 1952 - RENOVA-SE O SONHO DA ADOLESCÊNCIA
Permanecendo na firma, fui transferido para Montes Claros onde me matriculei em curso noturno de Contabilidade, no 3o ano propedêutico.
No final de 1942 recebi o meu diploma e no ano seguinte assumi a contabilidade da empresa, que a essa altura já se transformara em usina beneficiadora de algodão.
Em 1951, já possuindo algumas economias, acertei com a empresa tirar um ano de licença para tratamento de dentes, em Belo Horizonte, e para passar alguns meses no Rio, preparando-me para tentar o vestibular na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em Niterói. A moeda de então era o cruzeiro e eu já possuía um patrimônio de 250 contos, ou 250 mil cruzeiros.
Se a empresa não acatasse o meu pedido de licença, sem vencimentos, eu estaria disposto a deixar o emprego.
Na ocasião eu já era rotariano e professor no Instituto Norte Mineiro de Educação e no Colégio Imaculada Conceição (cursos noturnos) e já desfrutava, graças a Deus, de bom conceito na cidade.
Meu propósito era obter cartas de apresentação do Prefeito, do Juiz de Direito, do Presidente da Associação Comercial, do Rotary Club e da própria empresa e com esses documentos procurar uma grande editora no Rio (pensava na José Olympio Editora) ou uma grande Drogaria e oferecer-me como sócio e para trabalhar como contador de meio expediente, a fim de poder freqüentar a faculdade.
Felizmente a empresa concordou com a licença e em agosto um dos sócios se retirou e vendeu-me a parte dele.
Aliás, e é importante que se registre: os dois sócios se desentenderam e cada um deles concordou em comprar a parte do outro desde que eu concordasse em comprar a parte do que saísse.
É bom que se registre também que algum tempo depois a Editora José Olympio faliu e a Drogaria em que eu havia pensado teve igual destino.
Em 1960 comprei a parte do outro sócio, na empresa e em 1968 vendi a empresa para criar a Coteminas.
Comparando-se o emprego da Estrada de Ferro com o de Juramento, o primeiro era muitíssimo mais importante e convidativo. Mas para felicidade minha não o alcancei.
Fui trabalhar em Juramento porque não tive outra escolha. No entanto foi naquele modesto emprego e na evolução que nele alcancei que pude voltar a estudar, em curso noturno, formar-me em contabilidade e depois em direito e a tornar-me sócio fundador de empresas comerciais e de oito fábricas de tecidos. E ser eleito em 1979 Industrial do Ano do Estado de Minas Gerais.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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